quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Para Globo, desemprego preocupa pouco trabalhador brasileiro

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a Rede Globo, dois grandes guardiães da honestidade pátria, apuraram que o brasileiro se preocupa mais com a corrupção que com o desemprego. A Rede Globo foi adiante. Para ilustrar a reportagem sobre o assunto, na noite de segunda-feira, reuniu um grupo de trabalhadores aparentemente no intervalo de refeição, todos gordos e efetivamente empregados, para pedir sua opinião sobre o que lhes vem a cabeça quando se fala em corrupção. "A família", disseram vários deles, sugerindo que a corrupção lhes afetasse diretamente as famílias.
Gostaria muito de saber qual seria a resposta se os trabalhadores reunidos pela Globo fossem desempregados. A principal preocupação seria realmente a corrupção, ou a necessidade absoluta de conseguir um emprego para alimentar os filhos? Estamos diante de uma tragédia nacional desencadeada por uma luta equívoca, escandalosa e ditada pela vaidade chamada Lava Jato, e a CNI, atuando claramente como uma comparsa do sistema Globo, tenta manipular a opinião pública com o fim óbvio de comprar a simpatia do Judiciário de exceção de Curitiba, talvez para encobrir os próprios crimes fiscais.
Cada vez fica mais claro para os trabalhadores que a Lava Jato se tornou uma assassina de empregos. Dizer que isso é um efeito colateral da luta contra a corrupção é um engodo. Uma investigação competente, mais discreta, respeitadora de princípios basilares do Estado de Direito poderia ter levado aos mesmos resultados em matéria criminal, porém sem as terríveis repercussões que teve e continua tendo na economia e no emprego. Esse tipo de luta vaidosa contra a corrupção equivale a jogar o bebê pela janela junto com a água da bacia. No fim, quem paga a conta é o povo na forma de uma taxa crescente de desemprego.
Manipular a opinião pública no sentido de convencer a sociedade de focar problemas morais que se limitam a uma fração dela é um crime social. Afirmar que a maioria da população brasileira está mais preocupada com a corrupção que com o desemprego é desconhecer que, no caso da Petrobrás, o que realmente se tem provado, até o momento, é a confissão de cinco bandidos que pertenceram à alta direção da empresa. É possível que lá existam outros corruptos, mas, por enquanto, a Lava Jato não teve competência para identificá-los. Quanto aos empresários, foram simplesmente achacados pelos cinco bandidos.
A Globo joga a auto-estima da sociedade para baixo quando seleciona casos específicos de corrupção e os coloca em escala nacional no vídeo, independentemente de onde vem. A empresa se especializou em reportagens de polícia. A maior parte do noticiário se ocupa de episódios muitas vezes insignificantes que só assumem importância porque são apresentados na tela. Não que casos de corrupção não devam ser noticiados. Mas falta um sentido de proporção. Sem ela, o que existe é a intenção deliberada de criar uma atmosfera negativa para o Governo, mesmo quando o Governo nada tem a ver com a situação.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Desemprego continuará crescendo no mundo inteiro, diz OIT

Genebra - O desemprego seguirá crescendo no mundo tanto em 2016 como em 2017, segundo os últimos cálculos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estima que no final desse ano haverá quase 200 milhões de desempregados.
A OIT apresentou nesta terça-feira o estudo anual "Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo: Tendências 2016", no qual tenta analisar as tendências dos mercados de trabalho.
Segundo suas próprias estatísticas, 2015 acabou com 197,1 milhões de pessoas sem trabalho, 27 milhões a mais que antes da crise de 2007.
Os economistas da OIT preveem que em 2016 outros 2,3 milhões de trabalhadores se transformem em desempregados, o que elevaria o total de parados no final deste ano a 199,4 milhões.
A esse já considerável número "é provável" que se somem 1,1 milhão de pessoas sem trabalho em 2017, advertiu a entidade.
"É provável que a desaceleração econômica mundial de 2015 tenha um efeito retardado nos mercados de trabalho em 2016", argumentou o texto.
O aumento do número de litigantes de emprego virá principalmente dos países emergentes e em desenvolvimento, segundo o relatório, em particular os da América Latina assim como alguns países asiáticos (especialmente a China) e vários países árabes exportadores de petróleo.
"A significativa desaceleração das economias emergentes junto a uma drástica diminuição dos preços das matérias-primas têm um efeito negativo sobre o mundo do trabalho", declarou em entrevista coletiva o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.
Este aumento do desemprego nos países emergentes e em desenvolvimento contrasta com a melhora da taxa de desemprego das economias desenvolvidas, que caiu de 7,1% em 2014 a 6,7% em 2015.
"Em vários casos, no entanto, estas melhoras não foram suficientes para anular o déficit do emprego que se gerou como resultado da crise financeira mundial", especificou o relatório.
Um dos problemas principais ressaltados pelo relatório é que muitos dos empregos existentes são precários, por serem temporários, de meio período ou mal remunerados.
"Muitos trabalhadores e trabalhadoras têm que aceitar empregos mal remunerados, tanto nas economias em desenvolvimento como nas emergentes e, cada vez mais, nos países desenvolvidos", lamentou Ryder.
O diretor-geral da OIT fez especial ênfase em destacar a importância "de um salário de sobrevivência", ou seja, a importância que uma pessoa que trabalhe em tempo integral obtenha um salário que lhe permita sustentar ele ou ela e sua família dignamente.
"É inaceitável que em muitos casos isto não ocorra", ressaltou Ryder, lembrando que um piso de sobrevivência é diferente de um seguro-desemprego.
Segundo os dados da OIT, o emprego vulnerável ainda representa mais de 46% do total do emprego em nível mundial, e afeta cerca de 1,5 bilhão de pessoas.
O emprego vulnerável é especialmente alto nas economias emergentes e em desenvolvimento, onde alcança entre a metade e dois terços da população empregada nesses grupos de países, respectivamente, com os níveis mais altos na Ásia Meridional (74%) e na África Subsaariana (70%).
Existem, além disso, grandes diferenças entre os gêneros no que se refere à qualidade do trabalho.
Assim, em certos países do norte do Magrebe, da África Subsaariana e de países árabes, as mulheres tem de 25% a 35% mais risco de emprego vulnerável que os homens, denunciou o documento.
Por outra parte, o relatório mostra que o emprego informal representa mais de 50% na metade dos países em desenvolvimento, e em um terço destas nações afeta mais de 65% dos trabalhadores.
"A falta de empregos decentes faz com que as pessoas recorram ao emprego informal, que geralmente se caracteriza por baixa produtividade, baixos salários e nenhuma proteção social. Isto deve mudar", pediu Ryder.
Além disso, o diretor-geral da OIT lembrou que há consenso entre os líderes políticos sobre a importância de lutar contra a informalidade e que o único debate se situa em "como" fazê-lo.
"Mas é o rumo correto a tomar", concluiu.